The Tell Tale Heart





Aos caros leitores.
Primeiramente, gostaria de apresentar-me melhor. Sou uma criatura aprisionada, num lugar abaixo de seus pés, e acima de suas almas, em que as réstias de luz da humanidade entram pelas frestas dos alçapões envelhecidos. Eu sou outra dela assim como ela é outra de mim. Somos juntas, numa mesma mente e um mesmo corpo, porém separadas, com ideais e sentimentos próprios. As únicas coisas que impedem uma degradação total por ambos os lados, são nossas palavras, as folhas de papel amassadas na lixeira, os cadernos e nossos rabiscos sem sentido. Ela é real enquanto eu, uma mera ilusão simpática, que toma forma nos dias tristes. Gostaria de saber mais sobre vocês, caras crianças, o que andam fazendo? Como tem passado? Preferem damas a xadrez? Quais são seus livros favoritos?
Não percamos mais tempo, entretanto, com devaneios de minha desorientada mente. O tempo é curto e tenho muito a falar.


Há duas faces da mesma moeda aqui: "The Tell-Tale Heart" não é unicamente o nome de um jogo, - tema principal desta carta, inclusive - ele nomeia também um conto extraordinário (e diria até afável), redigido pelo meste Edgar Allan Poe. Coincidência? Obviamente não. Imagino que muitos não conheçam o conto, muito menos o Poe - fiquem tranquilos, até um tempo atrás eu não conhecia - tentarei deixar as coisas o mais explicadas o possível. Não temeis, irei por partes.


O Conto 

O conto revela o quão insana uma mente pode ser quando algo a aterroriza. Insanidade não é dispor de seus problemas (isso é Hakuna Matata!), e sim, uma das maneiras que você pode resolvê-los. Mais uma vez, Poe nos coloca num conflito de ideias, no qual não conseguimos definir qual lado é completamente são. Seria certo matar um idoso que nunca lhe fez mal, apenas porque, seu olhar esbranquiçado causa calafrios na base da coluna? Dentro dessa pergunta, submergimos na loucura de um personagem, e sua forma de ver o mundo.

➤ Ficha Literária

Título: O Coração Revelador (O Coração Delator)

Título Original: The Tell-Tale Heart
Data da primeira publicação: janeiro de 1843
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: James Russell Lowell
Livro: Histórias Extraordinárias (Contos do Grotesco e do Arabesco)
Gênero: Conto, Literatura Gótica, Terror.
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➤ Resumo

Eis aqui, um breve resumo dá história de um homem insano, que tem, como objetivo, mostrar sua ilusória sanidade. Perdido em seus meios, decide contar a verdade por detrás de seus atos. Trabalhava para um velho, cujo não tinha nenhuma inimizade, não tinha cólera e nem ganância pelo ouro. Seu único problema, a causa do seu verdadeiro pânico, era o olho, o maldito olho, de seu amo. O velho possuía catarata em um dos olhos, que o apavorava silenciosamente, fazendo com que ele tramasse, noite após noite, com uma frieza inabalável, o destino cruel que aquele olho teria. Enquanto, em mais uma noite, espreitava o sono do velho, fez um barulho com um fecho da lanterna, fazendo seu amo despertar num pulo. O silêncio os domina. Ninguém vê ninguém, ninguém ouve ninguém, ninguém ousa mover um músculo se quer. Cansado de esperar, o homem decide apontar um tênue feixe de luz em direção ao quarto, iluminando, diretamente o maldito olho. Foi então, que o coração do velho começou a bater alto. Mais Alto. MAIS ALTO. Fazendo com que o homem não se controlasse. Não apenas matou o velho, como esquartejou seu corpo, o enterrando embaixo do assoalho do quarto. Um tempo depois, guardas batem a porta, querendo investigar o sumiço do velho. Ele sorri e os deixa entrar. Porque teria medo, afinal? Tudo corria bem, os guardas não encontraram prova alguma, e, até se admiravam em conhecer um cavalheiro tão sincero e cortês. Então, de repente, um som começa a ecoar, como um relógio, cada vez mais alto. Era o som de um coração. Desesperado, com medo de que os policiais o descobrissem, o homem começou a ficar cada vez mais inquieto, até que, achando que apenas zombavam de si, revela, num ataque de fúria, onde o corpo está enterrado.


Agora que compreendem ao que refere-se o assunto do jogo - a verdadeira base desta postagem - podemos prosseguir. Tenho a honra de lhes apresentar, a extraordinária mente queescreveu este e tantos outros contos: Edgar Allan Poe.

O Escritor 

Um exímio escritos, notado e apreciado até os dias atuais, conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, cujo os únicos monstros são os humanos e suas mentes conturbadas. Foi um dos primeiros escritores americanos de contos e geralmente é considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.
"Edgar Allan Poe nasceu em Boston, Estados Unidos da América, em 1809, de um casal de atores fracassados. Órfão aos dois anos, adotado por rico comerciante, viajou pela Escócia e Inglaterra, recebendo esmerada educação clássica. Em 1826, frequenta a Universidade de Virgínia, estudando grego, latim, francês, espanhol e italiano, mas abandona o estudo por causa do jogo. No ano seguinte, retorna a Boston, onde publica Tamerlão e Outros Poemas, e, em 1829, um novo volume de poesias: Al Aaraaf, Tamerlão e Poemas Menores. Ingressa na West Point, mas é expulso por falta às aulas. Dedica-se então à literatura, numa vida nômade e inconstante partindo para Nova York, o maior centro literário americano da época. Em 1831, publica Poemas; em 1833 com Manuscrito Encontrado numa Garrafa ganha um prêmio de 50 dólares e torna-se redator e editor do Literary Messenger; mas é demitido por abuso de bebida. Em 1838, em Filadélfia, trabalha como editor no Button's Gentleman Magazine. Escreve A Queda da Casa de Usher e Contos do Grotesco e do Arabesco. Em 1840, demite-se do Button's e, em 1841 passa a editar o Graham's Magazine; nele publica o seu primeiro romance policial, Os Crimes da Rua Morgue, e, ainda em 1841, o conto policial O Escaravelho de Ouro, que lhe dá 100 dólares de prêmio, além de prestígio e publicidade. Em 1848, em Nova York, escreve A Balela do Balão e torna-se subeditor Evening Mirror, onde publica o célebre O Corvo.
Certo dia, após uma bebedeira, é encontrado inconsciente numa rua. Levado para um hospital, vem a falecer em 1849."
POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. São Paulo: Abril Cultural, 1981


O Jogo 

Agora, finalmente, vamos a segunda metade desta laranja (blé, detesto laranja). O enredo do jogo transcorre com o corpo já escondido, ou seja, seu objetivo principal não é matar o velho, e sim evitar ser pego pela polícia. Para isso, você terá que recolher algumas pistas pela casa,desde simples cartas até a arma do crime.



O jogo é classificado como aventura, mas pode também entrar num suspense leve. Os gráficos simples e criativos juntamente com o ar monocromático, criam a atmosfera ideal para uma das histórias de Poe. Sem puzzles, sua única preocupação é responder o que os guardam perguntam,  para não serem - ou serem - pegos. Por isso, você tem mais tempo para explorar as coisas ao redor, e entrar no clima da história.
Porém, o diferencial dessa história não está nos gráficos - que lembram um livro de ilustrações - e muito menos nos possíveis e previsíveis finais. Ele se encontra nos efeitos sonoros. Durante todo o jogo, é possível escutar um coração batendo, além de sussurros que aparecem constantemente aqui e ali. A música de fundo é bem tranquila, e combina bastante para garantir um ar mais macabro. Os sons também servem para algo além: avisar quando os policiais estão desconfiando de ti.



 Os Finais
Basicamente, são três finais: confessar, escapar e ser pego. Nele não há algo de surpreendente - talvez algumas coisinhas bizarras, mas mesmo assim - e nem nada de novo. Apesar de que, é legal ver qual você vai pegar, afinal, você ainda matou e ocultou um corpo, será insano ao ponto de não confessar?
Final - Crime Confessado: esse final, é para os bondosos de coração, que não querem o peso da culpa para o resto suas vidas. Mas vamos virar advogados do diabo agora. Então, você tirou uma vida por nada, esquartejou um corpo, teve o trabalho de tirar o assoalho de madeira e colocar o corpo ali para.......... Nada?
Final - Pronto Para a Próxima Vítima: certo, poderia falar que todo mundo que pega esse final é um insano, mas, além de todo mundo tentar pegá-lo - inclusive eu - é o final mais óbvio do jogo. Mas cuidado, essa ambição por morte, mentiras e por ocultar cadáveres pode ser perigosa.
Final - Assassino!: esse é, certamente, o final mais bizarro. Durante o jogo, conforme você vai dando as respostas erradas sua visão vai ficando cada vez mais turva, até você estar vendo um monte de policiais, mesmo sendo apenas dois que estão em sua casa. E então, eles irão perceber, e você será preso sob injúrias.

➛ Título: The Tell-Tale Heart
➛ Produtora: OneBlueEyeStudios
➛ Data do lançamento: Abril de 2015

➛ Completo: Sim
➛ Gênero: Aventura
➛ Idioma: Inglês

➛ Engine: Unity

 Download

➤ Curiosidade Curiosa
Durante minhas pequisas sobre a história, reparei num detalhe curioso: a OneBlueEyeStudios,não contente em, apenas basear o jogo em uma história, colocou algumas referências de outros contos do Poe na história. Infelizmente não tive a oportunidade de ler todas as obras do Poe (principalmente porque meu inglês é péssimo) é provável que eu não tenha pego todas as referências. Então, caso notem mais alguma, peço que não hesitem em me avisar.
Mas, deixando isso de lado, encontrei coisas realmente interessantes:

Referência ao poema "O Corvo"

Referência ao conto "Morella"

Referência ao conto "O Barril de Amontillado"

Referência ao conto "A Máscara da Morte Rubra"

Referência ao conto "A Queda da Casa de Usher"

E, por fim, referência ao próprio Poe.

Porque recomendo o jogo? É simples: em minha concepção, ele conseguiu reunir elementos da literatura universal em uma plataforma acessível a todos, tantos para pessoas que gostam de ler, quando para pessoas que preferem não ter um livro em mãos. Uma forma de espalhar conhecimento de uma maneira agradável a todos. Todo conhecimento é válido. 
Esse é o fim, caras crianças. Espero que vocês tenham gostado. Espero que gostem de mim.
Até uma próxima.


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